sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Rede particular precisa se preparar para receber classe C

ROBERTO PRADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Censo Escolar nos mostrou que o número de alunos está diminuindo no país. A análise do MEC nos lembra que a queda não é a mesma em todas as faixas -houve até crescimento na educação profissional, por exemplo.
Também houve crescimento da escola particular. Verdade que não é um grande aumento. Mas na comparação entre redes, em 2002 a escola particular tinha 12,8% dos alunos e em 2010, 14,7%. Por que as curvas diferentes entre particular e pública?
Não me cabe aqui analisar a escola pública. Mas por que a redução da taxa de natalidade -que afetou a escola pública- parece não ter afetado a escola privada?
É óbvio que afetou. Mas a escola particular está ganhando novo público, que estava na escola pública.
Algumas constatações:
1) A escola pública tem melhorado. Mas há muita coisa a ser feita, principalmente na questão de professores. As escolas não têm quadro completo e/ou trabalham com muitos professores desmotivados e/ou despreparados.
2) Via de regra, na particular o aluno tem todas as aulas, cumpre o planejamento.
3) Quem pode pagar por escola particular o faz. Trata-se de investimento no futuro do filho! E temos a "nova classe C", uma fatia da população ávida em consumir, inclusive educação.
Mas "escola particular" abrange um leque de escolas muito diferentes entre si. Fico me perguntando que escola está preparada para esse contingente que chega.
Hoje as escolas particulares estão muito parecidas umas com as outras. Falta diferencial na maioria delas. Qual escola tem essa nova classe C como alvo?
Será necessário investir em qualidade (é o que buscam) com preço baixo (é o que podem). Um ponto em comum com qualquer escola de ponta: investir em educadores qualificados e motivados! É a chave para uma educação cada vez melhor, também na rede pública.

ROBERTO PRADO, ex-diretor do Sieeesp (sindicato das escolas particulares de SP), é gerente da Rede Católica de Educação


Publicado originalmente na Folha de São Paulo, edição de 31/dez/2010.